Calophyllum brasiliense Cambess.

Landim, landi, guanandi, jacareúba

Árvore inerme, monoica, perenifólia, heliófila, latescente, com até 25 m de altura e 60 cm de DAP; látex amarelado, passando a pardo após algum tempo de exposição ao ar. Tronco geralmente longo, retilíneo e levemente cônico. Ritidoma espesso, consistente, cinzento ou preto, com sulcos profundos, largos, predominantemente oblíquos; casca interna róseo-avermelhada, fibrosa. Madeira moderadamente pesada; cerne marrom-claro a marrom-escuro. Folhas simples, opostas glabras; lâmina coriácea, geralmente elíptica, de 5,5-12 x 3,5-7 cm, com nervuras secundárias finas, numerosas, paralelas; pecíolo de 1,0-1,5 cm. Inflorescências cimosas, axilares, glabras, de 3-6 cm de comprimento, com flores unissexuais ou bissexuais. Flores diclamídeas, tetrâmeras, actinomorfas, com pétalas brancas, reflexas, de 5-7 mm de comprimento; androdeu e gineceu amarelos; flores hermafroditas com ovário súpero, unilocular e uniovulado. Fruto globoso, com epicarpo liso, mesocarpo polposo, endocarpo sublenhoso, marrom-claro, e 15-25 mm de diâmetro. Semente globosa, com tegumento membranáceo, marrom-claro, de 12-20 mm de diâmetro.

Distribui-se do sul do Brasil e nordeste da Argentina ao sul do México, fazendo-se  presente na maioria dos países sul-americanos e em parte dos centro-americanos. É encontrada em todos os  biomas brasileiros (com exceção do bioma Pampa), do nível do mar até 1.300 m de altitude. Ocorre em todas as partes do Cerrado, em florestas ribeirinhas vinculadas a superfícies encharcadas e eventualmente em barrancos de córregos e rios.

Mantém-se coberta de folhas ao longo de todo o ano. Floresce em agosto e durante outubro e novembro. Geralmente exibe frutos maduros nos períodos de maio a julho e de agosto a novembro. Apresenta flores andróginas e masculinas em indivíduos separados ou em um mesmo indivíduo Os principais visitantes das flores são abelhas silvestres de pequeno porte. As sementes são dispersas por morcegos que se alimentam do pericarpo e descartam o endocarpo sob os seus poleiros. Os frutos sem o endocarpo flutuam e podem ser transportados pela correnteza dos cursos d’água.

A madeira de C. brasiliense é muito versátil e, já no Período Colonial brasileiro, começou a ser usada para obras internas e externas; construção de embarcações; confecção de móveis, caixotes, escadas, tonéis, molduras, objetos decorativos, tamancos, compensados etc. A casca do tronco é usada na medicina popular, contra o diabetes, hemorróidas, reumatismo, inflamações e afecções cutâneas.  As folhas também são utilizadas contra o diabetes, enquanto o látex é usado no tratamento de afecções cutâneas em bovinos e equinos.  Segundo alguns autores, as sementes têm potencial para uso no preparo de cosméticos destinados a limpar e rejuvenescer a pele, bem como para fabricação de óleo combustível. A espécie reúne atributos que a torna  altamente recomendável para arborização urbana, recomposição de áreas desmatadas e produção de madeira em escala comercial, o que já vem ocorrendo em algumas partes do Brasil.

A formação de mudas de C. brasiliense pode ser por sementes ou por via vegetativa. As sementes maduras possuem em torno de 45% de umidade, o que torna necessário coloca-las para germinar logo após a colheita dos frutos, sem retirá-las do endocarpo, ou coloca-las em embalagem de polietileno e armazená-las em câmara fria, condições em que podem manter-se viáveis por até nove meses. A semeadura deve ser feita em recipientes de 25 x 15 cm, contendo substrato argilo-arenoso e mantidos em ambiente que proporcione cerca de 50% de sombreamento, valendo destacar que em algumas situações a semeadura no próprio campo seja preferível. A formação de mudas por via vegetativa mostra-se viável quando se utiliza estacas com 10 cm de comprimento, retiradas de ramos de indivíduos adultos ou juvenis, ou miniestacas retiradas de plântulas de jardins clonais ou da própria natureza. Para uma boa taxa de enraizamento, as estacas (ou as miniestacas) precisam ser tratadas com ácido indolbutírico (AIB) na dosagem de ± 3.000 mg.L-1  e fincadas em recipientes contendo vermiculita ou areia de rio lavada.

C. brasiliense tem ampla dispersão no Cerrado, é exclusiva de áreas de preservação permanente (florestas ribeirinhas) e possui populações em diversas unidades de conservação de proteção integral nesse bioma. Além disso, vem sendo utilizada em arborização urbana e plantada com vistas à produção de madeira.

Comentários

1) Vários estudiosos fizeram descobertas sobre as propriedades farmacológicas de C. brasiliense. Por exemplo: Ito et al. (2003) constataram que a casca do tronco possui cumarinas com potencial ação anti-viral e anti-cancerígena; Isaias et 2004 verificaram que as raízes, as flores e os frutos possuem compostos com propriedades analgésicas; e Huerta-Reyes et al. (2004) constataram que as folhas contêm compostos com atividade anti-HIV.

 2) Existe um grande número de indivíduos de C. brasiliense bem desenvolvidos, sadios e produtivos  na zona urbana de Brasília (DF), embora plantados em áreas abertas, de solos bem drenados, ácidos e pobres. Isto sugere que trata-se de uma espécie que se adapta a condições ambientais bem diferentes daquelas dos seus habitats naturais.

3) Atualmente existem plantações de Calophyllum brasiliense em várias partes do Brasil, inclusive no Cerrado, para produção de madeira com fins comerciais.

Tronco de indivíduo em margem de rio. Cabeceiras de Goiás (GO), 20-08-2017

Inflorescências. Cabeceiras de Goiás (GO), 22-10-2017

Frutos quase maduros. Brasilândia de Minas (MG), 12-06-2016

Frutos maduros, intatos e roídos por morcegos. Brasilândia de Minas (MG), 12-06-2016. Referência: moeda de R$0,50.

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