Aspidosperma pyrifolium Mart.

Peroba, peroba-rosa, pereiro, pereiro-rosa, guatambu, guatambu-rosa

Árvore inerme, latescente (látex branco), caducifólia, heliófila, monoica, até 25 m de altura e 90 cm de DAP. Tronco retilíneo, levemente cônico. Casca muito espessa; ritidoma sulcado, cinzento na superfície e rosado na camada interna; casca interna rosada, passando a amarelada junto ao floema. Madeira moderadamente pesada; cerne rosado a róseo-amarelado, de texto fina. Râmulos roliços, lenticelados; gemas protegidas por catafilos escamiformes enquanto dormentes. Folhas simples, alternas, obovadas a elípticas, cartáceas, pilosas ou glabrescentes na face inferior, de 5-14 x 4-7 cm; pecíolo de 1-3 cm de comprimento. Inflorescências cimosas, agrupadas ou solitárias, vistosas, glabrescentes, de 4-5 cm de comprimento. Flores pentâmeras, actinomorfas, pediceladas, pilosas, perfumadas, de 1,5-2 cm de comprimento; corola branco-amarelada, gamopétala, contorta, com lobos reflexos na antese. Frutos isolados ou aos pares, achatados, secos, lenhosos, deiscentes, polispermos, obovados, lenticelados, de 5-6 x 3,5-4.5 cm. Sementes planas, semicirculares, com tegumento membranáceo, protegidas e contornadas por uma membrana bege, quebradiça, de 3-4 cm de diâmetro, que funciona como asa.

A. pyrifolium distribui-se, de forma descontínua, do leste da Bolívia e do Paraguai até a área de domínio do bioma Caatinga na região Nordeste do Brasil e norte de Minas Gerais, após passar pelas unidades federativas da região Centro-Oeste e pelo estado do Tocantins. É considerada um elemento típico de florestas caducifólias associadas a solos férteis, geralmente com presença de rochas calcárias.

Essa apocinácea perde as folhas na estação seca; floresce anualmente ou bi-anualmente de outubro a novembro, com as folhas já bem desenvolvidas; e apresenta frutos maduros entre julho e setembro. As flores atraem alguns insetos de hábito diurno, mas, pelo menos na Caatinga (Queiroz, 2009), os seus polinizadores são mariposas de hábito noturno pertencentes à família Sphingidae. As sementes são dispersas pelo vento.

A madeira de A. pyrifolium é resistente e fácil de trabalhar e na época em que era abundante, foi muito usada em construção de estruturas de telhados, forros, assoalhos, rodapés, escadas internas e carrocerias, bem como em confecção de esquadrias, portas, janelas, móveis, molduras, esculturas, oratórios e altares. As folhas e a casca do tronco são empregadas na fitoterapia popular, contra afecções respiratórias, febre e distúrbios estomacais, enquanto existem estudos que apontam uma série de substâncias químicas nessas estruturas, sendo uma parte com diversas outras propriedades medicinais, inclusive antitumorais, e outra parte com capacidade para produzir intoxicações e até mesmo aborto no ser humano e em animais. A espécie reúne características que a tornam altamente recomendável para utilização em arborização urbana, recomposição de áreas desmatadas e implantação de sistemas agroflorestais.

A forma de propagação de A. pyrifolium é por meio de sementes, que podem ser recolhidas no chão após a sua queda ou retiradas de frutos coletados nas árvores, no início da deiscência. Após a colheita, deve-se aparar a asa das sementes e em seguida colocá-las para germinar  em sementeiras contendo terra argilo-arenosa misturada com esterco curtido no proporção de 2:1, sob condições intermediarias de sombreamento (40% a 60%). As plântulas devem ser transferidas para recipientes maiores quando estiverem com 3-5 cm de altura.

A. pyrifolium é pouco dispersa no Cerrado; ocorre em áreas preferenciais para atividades agropastoris; foi objeto de corte por um longo período, para utilização da madeira; está subsistindo em fragmentos florestais sujeitos a derrubadas de árvores, invasões de gado e incêndios; e não possui registros de ocorrência em unidades de conservação de proteção integral nesse bioma.

Distinção da espécies

A. pyrifolium pode ser distinguida das suas congenéricas abordadas neste trabalho por apresentar ritidoma rosado na parte interna; flores com lobos reflexos e mais longos que a parte tubulosa; e gemas apicais protegidas por catafilos escamiformes enquanto dormentes. A. polyneuron também possui ritidoma rosado internamente, mas difere de A. pyrifolium em diversos caracteres morfológicos.

Indivíduo florido, em floresta estacional caducifólia convertida em pastagem. Buritinópolis (GO), 04-10-2022

Superfície e cor da camada subsuperficial do ritidoma. Brazlândia (DF), 04-08-2006

Inflorescência. Campos Belos (GO), 21-10-2018

Fruto imaturo. Posse (GO), 24-03-2010

Fruto maduro, aberto, e sementes. Buritinópolis (GO), 04-10-2022

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