Cordia alliodora (Ruiz & Pav.) Cham.

Freijó, louro-freijó, louro-branco

Em construção

Indivíduo florida em floresta estacional subcaducifólia convertida em pastagem. Novo Alegre (TO), 22-05-2006

Inflorescências. Novo Alegre (TO), 22-05-2006

Árvore inerme, subcaducifólia a caducifólia , heliófila, monoica, até 15 m de altura e 35 cm de DAP. Casca externa cinzenta a pardacenta, sulcada; casca interna  brancacenta, passando a amarelado-ferrugínea após o corte, com leve odor de alho. Madeira moderadamente pesada, amarelada a marrom-clara, com listras mais escuras, também com odor de alho. Ramos geralmente com uma dilatação oca no ápice, que serve de habitat para formigas. Folhas simples, alternas, pecioladas,  elípticas, pilosas, de margem inteira, com odor de alho e 6-15 x 3-7 cm. Inflorescências terminais, grandes, vistosas, pilosas, muito ramificadas, com 10-15 cm de comprimento. Flores diclamídeas, pentâmeras, actinomorfas, hermafroditas,  muito perfumadas, com 12-15 mm de comprimento; corola branca, larga no ápice, afunilada na base, aderida ao cálice e ao fruto. Frutos oblongos ou elipsoides, indeiscentes, monospermos, com 6-7 x 2-3 mm. Sementes pouco menores que os frutos.

Distribui-se, de modo um tanto descontínuo, do México até o  norte da Argentina, irradiando-se por quase todas as unidades federativas da regiões Norte e Centro-Oeste do Brasil e chegando aos estados do Maranhão, Piauí, Bahia e Minas Gerais. É pouco frequente no Cerrado, onde é encontrada de forma esporádica, geralmente em florestas estacionais subcaducifólias.

Floresce ao longo dos meses de maio e junho, com uma parte das folhas velhas ainda presente. Perde o restante das folhas senescentes ao longo dos demais meses da estação seca, ao mesmo tempo em que gradativamente emite folhas novas. Os frutos amadurecem cerca de 2 meses após a floração. As sementes são dispersas pelo vento, aderidas ao fruto e ao perianto, com a corola funcionando como aparato de flutuação. As flores são frequentadas por uma grande diversidade de insetos, com destaque para himenópteros e lepidópteros. Alguns autores constataram que as flores são de antese crepuscular, predominantemente auto-incompatíveis e polinizadas por mariposas e abelhas.

Fornece madeira valiosa e versátil, muito apreciada para confecção de móveis, portas, janelas, esquadrias, tábuas e tacos para pisos, laminados, tonéis, instrumentos musicais, peças decorativas e hélice de aeroplanos, bem como para construção de estruturas de telhado, carrocerias, embarcações etc. As flores oferecem néctar e pólen aos seus visitantes. O néctar é considerado diferenciado, por dar origem a mel claro, aromático e saboroso. As folhas são usadas na medicina caseira, como tonificante e estimulante, e contra infecção pulmonar. A espécie é altamente apropriada para arborização urbana, recomposição de áreas desmatadas e plantios para produção de madeira nobre. É também uma espécie que tem apresentado bom desempenho silvicultural e econômico quando utilizada em sistemas agroflorestais, como tem sido constatado em algumas regiões do Brasil, especialmente da Amazônia, e em vários outros países tropicais.

Os frutos são considerados maduros e com sementes bem formadas quando se desprendem da árvore e estão intumescidos e firmes. As sementes perdem rapidamente a viabilidade, exigindo que sejam postas para germinar logo após a queda dos frutos, removendo-se apenas as pétalas a eles aderidas. A semeadura deve ser realizada em canteiros ou em recipientes parcialmente sombreados, contendo terra argilo-arenosa misturada com matéria orgânica decomposta, na proporção de 2:1.  A emergência das plântulas se inicia entre 15 e 30 dias após a semeadura e a taxa de germinação pode chegar a 80%. As plântulas são repicadas quando atingem 5 cm de altura e só devem ser plantadas no campo quando estiverem com mais de 20 cm de altura. O plantio pode em áreas ensolaradas ou parcialmente sombreadas, mas é importante que os solos sejam de média a alta fertilidade ou que tenham sido condicionados com calcário, matéria orgânica e NPK nas covas ou sulcos de plantio, com base em resultados de análises físico-químicas. Mesén et al. (1997) constataram que C. alliodora pode ser multiplicada por meio de seções de ramos tratadas com ácido indolbutírico (AIB) e em alguns países uma parte das mudas utilizadas para plantio é originária de raízes que emitiram brotações ao redor das árvores. O desempenho das mudas dessa espécie tem sido considerado satisfatório, na maioria dos plantios realizados.

C. alliodora é pouco frequente no Cerrado, ocorre em áreas com aptidão para atividades agropastoris e ainda não possui registros de ocorrência em unidades de preservação de proteção integral nesse bioma. Está, portanto, entre as muitas espécies de plantas que carecem de avaliações sobre os seus status de conservação nessa parte do Brasil.

Espécies afins

Cordia alliodora possui muitas afinidades morfológicas e ecológicas com C. glabrata e C. trichotoma, também abordadas neste trabalho. A distinção entre elas pode ser feita por meio do quadro abaixo.

Características distintivas C. alliodora C. glabrata C. trichotma
Odor de alho nos órgãos vegetativos Sim Não Não
Dilatações ocas nos ramos Sim Não Não
Pilosidade na lâmina foliar Moderada Ausente Densa
Comprimento da flor 12-15 mm ± 30 mm 15-20 mm
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