Virola urbaniana Warb.

Bicuíba, bicuíba-do-brejo, virola, virola-do-brejo

Árvore inerme, heliófila, perenifólia, dioica, de até 25 m de altura e 45 cm de DAP. Fuste retilíneo, com esgalhamento monopodial, (sub)verticiliado; tronco com sapopemas bastante pronunciadas. Casca moderadamente espessa; ritidoma  cinzento a amarronzado, superficialmente dividido e ligeiramente descamante, sempre com colônias de líquens; casca interna vermelha, exsudando seiva da mesma cor . Madeira leve; cerne bege, passando a marrom quando exposto ao tempo. Râmulos roliços, relativamente curtos e espessos, tomentosos no ápice. Folhas simples, alternas, dísticas; pecíolo de 8-12 mm de comprimento; lâmina  cartácea a subcoriácea, glabra a glabrescente na face superior, ferrugíneo-tomentosa na inferior, 8-14 x 5-8 cm, ovada, com base subcordada a obtusa, ápice agudo a acuminado e margem inteira. Inflorescências axilares, tomentosas; flores curto-pediceladas a sésseis, ferrugíneo-tomentosas, unissexuais, monoclamídeas, actinomorfas, perfumadas, de 3-4 mm de comprimento e largura, com perigônio trímero, dividido até próximo à base. Inflorescências masculinas paniculiformes, de até 15 cm de comprimento; flores em fascículos de até 30 unidades, com androceu constituído por 3 estames concrescidos, com anteras livres. Inflorescências femininas fasciculadas, de 5-7 cm de comprimento; flores solitárias ou em grupos de até 5 unidades, com ovário súpero, unilocular e uniovulado. Frutos curto-pedunculados, tomentosos a glabrescentes, globosos a elipsoides, monospermos, deiscentes, de 15-20 x 10-15 mm. Sementes elipsoides a globosas, alvacentas, sulcadas, oleaginosas, de 10-13 x 8-10 mm, com arilo vermelho, carnoso, oleoso, inteiriço ou longitudinalmente dividido.

É endêmica do Bioma Cerrado, com registros de ocorrência nos estados de Mato Grosso, Tocantins, Maranhão, Bahia, Goiás e no Distrito Federal. Ocorre exclusivamente em florestas ribeirinhas vinculadas a superfícies encharcadas, em associação com Xylopia emarginata, Calophyllum brasiliense, Magnolia ovata, Mauritia flexuosa e Protium spruceanum, entre outras espécies típicas desses habitats.

Floresce, principalmente, em julho e agosto e na maioria das vezes apresenta frutos maduros de  novembro a janeiro. As flores são similares às de V. sebifera e provavelmente também são frequentadas por insetos de hábito noturno, como relatado por Lenza & Oliveira (2006) para essa espécie. As sementes, por causa do vistoso e nutritivo arilo, atraem primatas, marsupiais e aves, com destaque para tucanos, que possivelmente são os seus principais dispersores.

A madeira, tida como de baixa durabilidade, é eventualmente utilizada  como  fonte de energia e para preparar varões para cercas e viga e caibro para edificações provisórias no meio rural; além do mais, é apontada como apropriada para confecção de móveis singelos, caixotes, urnas funerárias, forros, laminados, contraplacados, molduras e brinquedos, e para fabricação de polpa para papel. As sementes contêm um óleo que aparentemente possui as mesmas propriedades e aplicações dos óleos de V. sebifera e V. surinamensis, também focalizadas neste trabalho.. O arilo das sementes é um recurso alimentar disputado por vários membros da fauna arborícola, com destaque para tucanos, que têm presença marcante nas árvores com frutos maduros. As sementes que caem são apanhadas por animais terrestres. A espécie pode ser indicada para arborização de margens de lagos e é bastante recomendável para recomposição de florestas associadas a terrenos encharcados.

Para a formação de mudas de V. urbaniana, sugere-se  a adoção dos procedimentos  preconizados para S. sebifera, que compreendem: 1) utilização de sementes novas, livres do arilo e lavadas em água corrente; 2) semeadura em sementeiras ou em recipientes individuais, em ambiente sombreado; e 3) utilização de substrato constituído por uma mistura de terra argilo-arenosa com esterco curtido, na proporção 1:1. Com base no exposto para S. sebifera e V. surinamensis, pode-se esperar uma taxa de germinação de 30% a 50% e um prazo de 30 a 50 dias para as plântulas começarem a emergir. Pode-se esperar também que o crescimento das plântulas e dos indivíduos juvenis varie de moderado a rápido.

V. urbaniana ocorre em apenas uma parte das florestas vinculadas a superfícies paludosas da sua área de dispersão.  Mas mesmo sendo pouco frequente, pode ser considerada uma espécie sob baixo risco de extinção, por ser exclusiva desse tipo de área de preservação permanente e estar presente em diversas unidades de conservação de proteção integral nessa área.

Distinção da espécie

V. urbaniana pode ser distinguida das suas congenéricas tratadas neste trabalho pelo habitat, tendo em vista que é exclusiva de florestas ribeirinhas vinculadas a superfícies encharcadas. Pode ser distinguida também  pelas folhas, que são menores e ferrugíneo-tomentosas, em contraposição com as das outras duas espécies, que são de maior tamanho e fulvo-tomentosas.

Indivíduo emergente no habitat natural. Planaltina (DF), 03-02-2018

Base do tronco de um indivíduo de grande porte. Planaltina (GO), 03-02-2018

Superfície do ritidoma e cor da casca interna e do exsudato. Planaltina (DF), 03-02-2018

Folhas novas: face abaxial (esquerda) e face adaxial (direita). Planaltina (DF), 03-02-2018

Ramos com frutos imaturos. Planaltina (DF), 03-02-2018. Autor: Eber M. Alcântara

LITERATURA
IBGE. 2002. Árvores do Brasil Central: espécies da Região Geoeconômica de Brasília. Rio de Janeiro: IBGE, 411 p.
Oliveira, S.M. 2020. Virola in Flora do Brasil 2020. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em: <http://reflora.jbrj.gov.br/reflora/floradobrasil/FB31447>. Acesso em: 09 ago. 2021.
PAULA, J.E. 1985. Estudo de madeiras indígenas, visando seu aproveitamento na geração de energia. Atualidades do Conselho Nacional do Petróleo, v.16, n.92, p.13-23.
PAULA, J.E. & HERINGER, E.P. 1979. Duas espécies da flora do planalto central brasileiro: Virola sebifera Aubl. e V. lieneana Paula & Heringer sp. nov. XXX Congresso Nacional de Botânica, Campo Grande (MS). Anais. Brasília: Sociedade Botânica do Brasil, p.89-99. Nota: Neste trabalho, Virola urbanina foi tratada como V. lieneana.
RODRIGUES, W.A. 1980. Revisão taxonômica das espécie s de Virola Aublet (Myristicaceae) do Brasil. Acta Amazônica, v.10, n.1, p.5-127 (suplemento).
RODRIGUES, W.A. 1982. Flora de Goiás: Myristicaceae. RIZZO, J.A. (coord.). Goiânia: Editora da Universidade Federal de Goiás, 33 p. (Coleção Rizzo, v.4).
SILVA JÚNIOR, M.C. & PEREIRA, B.A.S. 2009. + 100 Árvores do Cerrado: Matas de Galeria: Guia de Campo. Brasília: Rede de Sementes do Cerrado, p.90-91.
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