Pera glabrata (Schott) Poepp. ex Baill.

Sinônimos: P. obovata (Klotzsch) Baill., P. parvifolia (Klotzsch) Müll.Arg., P. arborea Baill.

Seca-ligeiro, pau-de-sapateiro, pau-de-tamanco, sete-capas

Árvore inerme, perenifólia ou subcaducifólia, heliófila, dioica, até 15 m de altura e 30 cm de DAP. Ritidoma estreito, cinzento a pardacento, íntegro ou  dividido, descamante e com cicatrizes deprimidas; casca interna rosada. Madeira leve; cerne marrom ou pardacento. Râmulos roliços, esverdeados quando jovens e variando de cinzentos a pardacentos quando adultos. Folhas simples, alternas, glabras ou com pelos escamiformes; pecíolo canaliculado, de 5-12 mm de comprimento; lâmina discolor, subcoriácea, geralmente elíptica, de margem inteira, com 6-12 x 2,5-6 cm e com a face abaxial apresentando glândulas pateliformes. Inflorescências unissexuadas, raramente  bissexuadas, axilares, fasciculadas, curto-pedunculadas, com pelos escamiformes; as masculinas com 3 e as femininas com 4 flores. Flores em um invólucro amarelo, (sub)globoso, coriáceo, de 4-6 mm de diâmetro, abrindo-se longitudinalmente na antese; flores masculinas sésseis, com invólucro menor do que o das femininas, monoclamídeas, com cálice reduzido, tri, tetra ou pentalobado e pistilódios filiformes; flores femininas pediceladas, com invólucro maior do que o das masculinas, aclamídeas, com ovário trilocular, globoso e um estaminódio petaloide. Frutos (sub)globosos, reticulados, secos, deiscentes, com três lojas, cada qual com uma semente, de cor cinzenta e de 15-20 mm de diâmetro quando maduros. Sementes pretas, obovoides a elipsoides, de 5-7 mm de comprimento, parcialmente revestida por um arilo vermelho-vivo.

Ocorre no Suriname, Guiana, Guiana Francesa, Venezuela, Trinidad e Tobago, Colômbia,  Peru, Bolívia e em todas as unidades federativa do Brasil. É uma das espécies arbóreas mais comuns e populares no Cerrado, sendo encontrada com frequência e às vezes com elevada abundância em florestas ribeirinhas, florestas estacionais perenifólias e subcaducifólias e cerradões, em diversos tipos de solos.

Floresce massivamente durante junho e julho e apresenta frutos maduros em setembro e outubro. Segundo Freitas et al. (2011), as flores são de antese diurna e recebem visitas de um elevado número de espécies de himenópteros e dípteros. Francisco et al. (2007) constataram que o arilo das sementes atrai um elevado número de espécies de aves, com várias delas ingerindo as sementes e defecando-as longe da planta-mãe.

A madeira é utilizada em construção de cercas e de edificações provisórias no meio rural; bem como para confeccionar caixotes, esculturas, plataformas para tamancos e formas para calçados, entre outros artefatos. As sementes e o arilo que as envolvem são um recurso alimentar importante para mais de duas dezenas de espécies de aves (Francisco et al., 2007). Ortega et al. (2006) constataram que o extrato etanólico das folhas apresenta atividade contra o protozoário Trypanosoma cruzi e os vírus da febre amarela e da dengue. A espécie reúne atributos que a tornam recomendável para arborização urbana, tais como: folhagem densa e vistosa durante a maior parte do ano; flores numerosas, ao longo do ramos; e oferta de alimento à avifauna. Por este último motivo e por ser uma espécie pioneira, é também altamente indicada para recomposição de áreas desmatadas.

Para formar mudas de P. glabrata, deve-se utilizar sementes de frutos recém-abertos e livres do arilo que as envolvem. Não há necessidade de tratamentos especiais para uma boa germinação. A semeadura pode ser em recipientes de ± 20 x 10 cm ou em sementeiras, para posterior repicagem das plântulas. O substrato pode ser uma mistura de areno-argilosa com esterco curtido, na proporção de 1:1, e o ambiente deve ser ensolarado ou com apenas um leve sombreamento.

P. glabrata ocorre, em grande parte das vezes, em áreas preferenciais para atividades agropastoris. Porém, se faz presente em toda a área de abrangência do Cerrado; se faz presente em áreas de preservação permanente (florestas ribeirinhas) e possui populações em várias unidades de conservação de proteção integral nesse bioma.

Árvore em área de cerradão desbastada e usada como pastagem. Araxá (MG), 12-12-2013

Superfície de ritidoma parcialmente coberta por colônias de líquens, e cor da casca interna. Araxá (MG), 12-12-2013

Inflorescências masculinas. Coromandel (MG), 05-07-2013

Inflorescências femininas. Coromandel (MG), 05-07-2013

Frutos maduros expondo as sementes. Coromandel (MG), 22-09-2013

LITERATURA
BIGIO, N.C. & SECCO, R.S. 2012. As espécies de Pera (Euphorbiaceae) na Amazônia Brasileira. Rodriguésia, v.63, n.1, p.163-207.
BIGIO, N.C. & SECCO, R.S. Peraceae in Flora do Brasil 2020 em construção. Jardim Botânico do Rio de Janeiro.Disponível em: <http://reflora.jbrj.gov.br/reflora/floradobrasil/FB56593>. Acesso em: 16 abr. 2020.
CORDEIRO, I. 1992. Flora da Serrado Cipó, Minas Gerais: Euphorbiaceae. Boletim de Botânica da Universidade de São Paulo, v.13, p.169-217.
FRANCISCO, M.R. et al. 2007. Bird attributes, plant characteristics, and seed dispersal of Pera glabrata (Schott, 1858), (Euphorbiaceae) in a disturbed cerrado area. Revista Brasileira de Biologia, v.67, n.4, p.627-634.
FREITAS, J.R. 2011. Aspectos da ecologia reprodutiva de Pera glabrata (Schott) Poepp. ex Baill. (Euphorbiaceae) em uma área de Cerrado no estado de São Paulo. Revista Árvore, v.35, n.6, p.1227-1234.
LORENZI, H. 1998. Arvores brasileiras: manualde identificação e cultivo de plantas arbóreas brasileiras. Nova Odessa (SP): Editora Plantarum, v,1. 1a ed., 352 p.
ORTEGA, M.R. et al. 2006. Extracts from Pera glabrata (Schott) and Pera distichophylla with anti parasite and antiviral activity. Ciencia, v.14, n.4, p.492- 497.
PENNA, E.M. 1981. Estudos taxonômicos e morfológicos de Pera glabrata (Schott) Baill. (Euphorbiaceae). Dissertação (mestrado), Universidade Federal do Rio de Janeiro, 84 p.
SILVA JÚNIOR, M.C. & PEREIRA, B.A.S. 2009. + 100 Árvores do Cerrado: Matas de Galeria: Guia de Campo. Brasília: Rede de Sementes do Cerrado, p.98-99.

 

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