Ximenia americana L.

Sinônimo: Ximenia aculeata Crantz, entre vários outros

Limãozinho, limãozinho-do-mato, ameixa-do-mato

Árvore armada de espinhos, caducifólia, heliófila a semi-esciófila, monoica ou dioica, de até 5 m de altura. Tronco inclinado ou tortuoso, de 12 cm de DAP. Madeira pesada, rosada a amarelada, perfumada. Ritidoma cinzento a pardacento, espesso, irregularmente dividido e descamante; casca viva vermelha. Ramos cinzentos e lenticelados quando adultos, com espinhos retos, pontiagudos, que se transformam em braquiblastos (râmulos curtos). Folhas simples, curto-pecioladas, glabras ou pubescentes, espiraladas ou fasciculadas, a maioria em braquiblastos; lâmina variando de ovada a obovada e de membranácea a cartácea, de margem inteira, com 4-7 x 2-3,5 cm e 3-6 pares de nervuras secundárias bem visíveis. Inflorescências racemiformes, geralmente axilares, curtas, com 1-7 flores. Flores amarelo-esverdeadas, diclamídeas, tetrâmeras ou pentâmeras, andróginas ou funcionalmente unissexuais, perfumadas, de 1,5-2 cm de comprimento; pedicelo de 8-12 mm de comprimento; cálice curto; corola com pétalas vilosas da face interna; androceu com 6-10 estames; ovário súpero. Fruto globoso a elíptico, de 2,0-3,0 x 1,8-2,2 cm, monospermo, com epicarpo fino variando de  amarelo a avermelhado na maturação, mesocarpo suculento quando nesse estágio e endocarpo rijo, geralmente de cor bege. Semente globosa a elíptica, amarelada ou bege, oleosa, bem menor que o fruto.

Ximenia americana possui dispersão transcontinental, ocorrendo naturalmente na África, Índia, Nova Zelândia, Austrália, América Central e América do Sul (Sacande & Vautier, 2006). No Brasil, a sua área conhecida de dispersão compreende todas as unidades federativas das regiões Centro-Oeste, Nordeste e Sudeste e os estados do Pará, Tocantins, Acre, Rondônia, Paraná e Santa Catarina. É encontrada de forma ocasional no Cerrado, em florestas ribeirinhas, florestas estacionais subcaducifólias e caducifólias e eventualmente em cerrados.

Essa espécie reproduz ao longo de quase todo o ano. Informações de etiquetas de exsicatas indicam que no Brasil ela floresce nos meses de janeiro a maio e em agosto, novembro e dezembro; e apresenta frutos maduros de fevereiro a maio e em outubro e novembro. As flores são frequentadas por abelhas, vespas e borboletas, entre outros insetos. As sementes são dispersas por morcegos, primatas, aves, animais e terrestres e, eventualmente, pela correnteza dos cursos d’água. Félix et al. (2005) encontraram altas taxas de frutos infestados pela mosca-das-frutas (Anastrepha alveatoides), em uma localidade do Mato Grosso do Sul.

A madeira de X. americana é usada localmente para confecção de cabos de ferramentas, pequenas esculturas e móveis artesanais. A polpa dos frutos é adocicada e apreciada pela fauna silvestre e pelo homem, que a ingere in natura  ou em conserva e, eventualmente, na forma de suco, geleia e licor. Análises químicas indicaram que essa parte do fruto é rica em vitaminas, sais minerais, lipídios, fibras, amido e polifenóis. As sementes têm sido referidas como purgativas, mas também costumam ser ingeridas pelo homem, torradas, e fornecem um óleo que pode ser passado na pele e nos cabelos.  A casca contém em torno de 17% de um tanino que confere uma cor avermelhada ao couro e que pode ser usado no tingimento artesanal de tecidos. O extrato cru das folhas é usado para matar larvas de insetos e o da casca é utilizado para eliminar pulgas. Essa espécie é amplamente utilizada na medicina popular e por este motivo foi objeto de um grande número de estudos fitoquímicos e farmacológicos; alguns desses estudos estão assinalados com um asterisco (*) na literatura abaixo referenciada.  Devido às suas múltiplas e relevantes utilidades, ela é prioritária para  conservação in situ e para inclusão em projetos de arborização urbana, recomposição de áreas desmatadas, formação de pomares de fruteiras não convencionais, construção de cercas vivas e implantação de sistemas agroflorestais.

Para formação de mudas de X. americana o usual tem sido colocar as sementes para germinar dentro dos endocarpos, após a remoção da polpa que os envolvem e a realização de incisões superficiais para facilitar a passagem de água pelo invólucro. A semeadura pode ser em recipientes de ± 20 x 10 cm ou em sementeiras, para posterior repicagem das plântulas. O substrato pode ser uma mistura de areno-argilosa com esterco curtido, na proporção de 1:1, e o ambiente deve ser parcialmente sombreado. Mohamed & Feyissa (2020) desenvolveram um protocolo para propagação in vitro de Ximenia americana, mas não se sabe se já começou a ser usado por viveiristas.

X. americana possui ampla dispersão no Cerrado e habita vários tipos de vegetação, mas ocorre na forma de populações esparsas, geralmente constituídas por pouco indivíduos, e não possui registros de presença em unidades de preservação de proteção integral. Tem a seu favor o fato de ocorrer em áreas de preservação permanente (florestas ribeirinhas).

Comentário

Ximenia americana é referida por DeFilips (1969) e outros autores, como semiparasita de raízes de árvores.

Indivíduo bifurcado na base, em floresta estacional caducifólia convertida em pastagem. Guarani de Goiás (GO), 27-11-2009

Superfície do ritidoma e cor da casca interna. Guarani de Goiás (GO), 06-08-2009

Flores e botões florais. Padre Bernardo (GO), 04-01-2020

Frutos no início da maturação. Niquelândia (GO), 22-03-2008

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