Platymiscium floribundum Vogel

Variedades floribundum Vogel e nitens (Vogel) Klitgaard

Jacarandá, jacarandá-tã, feijão-cru, sacambu

Árvore inerme, caducifólia a subcaducifólia, heliófila, monoica, até 12 m de altura e 35 cm de DAP. Casca moderadamente espessa; ritidoma cinzento a pardacento, sulcado ou quase íntegro e superficialmente descamante; casca interna amarelo-clara no momento do corte, passando em seguida a marrom e a exsudar seiva avermelhada na região do floema. Madeira moderadamente pesada; cerne marrom, geralmente com listras escuras. Folhas opostas, glabras imparipinadas, com 5-7 folíolos; raque e pecíolo totalizando 8-15 cm de comprimento; folíolos opostos, cartáceos, ovados a elípticos, de 8-12 x 4-6 cm, o terminal maior que os laterais. Inflorescência racemosa, terminal ou axilar, pendente, vistosa, glabra ou pubescente, de 8-20 cm de comprimento. Flores diclamídeas, pentâmeras, papilionáceas, andróginas, perfumadas, de 12-18 mm de comprimento; corola dialipétala, amarela, com uma mancha púrpura na base do estandarte. Fruto compresso, papiráceo, ondulado, oblongo ou elíptico, monospermo, com núcleo seminífero central, indeiscente, de  7-9 x 2,5-4 cm. Semente compressa, pardacenta, reniforme, com tegumento membranáceo e 10-12 x 8-10 mm.

P. floribundum var. floribundum ocorre na parte da faixa costeira brasileira compreendida entre os estados de Santa Catarina e do Piauí e chega até Minas Gerais, Goiás e Distrito Federal. P. floribundum var. nitens distribui-se do Piauí até Minas Gerais e Rio de Janeiro e coocorre com a variedade floribundum nessas duas unidades federativas da região Centro-Oeste. Ambas ocorrem em florestas estacionais subcaducifólias e caducifólias vinculadas a solos de média a alta fertilidade, e às vezes em florestas ribeirinhas.

Essas duas variedades florescem entre maio e outubro, com pico em agosto. A floração é sempre abundante e dura de duas a três semanas. As flores exalam um aroma suave e agradável, que atrai vespas, mamangavas e diversas espécies de abelhas. Os frutos amadurecem cerca de 5 meses após o término da floração e caem sob a planta-mãe ou são dispersos por ventos fortes. As sementes muitas vezes apresentam altas taxas de predação por larvas de um coleóptero ainda não identificado.

A madeira dessas variedades de P. floribundum é considerada de alta qualidade, já tendo sido muito usada para confeccionar portais, portas, janelas, assoalho, forros, móveis, instrumentos musicais e objetos decorativos, entre outras finalidades. As flores fornecem pólen e néctar aos visitantes. Militão et al. (2005 e 2006) e  Falcão et al. (2005) constataram que as sementes dessa espécie contêm isoflavonóides que apresentam atividade antiviral, antifúngica e anticancerígena. Segundo Klitgaard (2005), existem registros de ocorrência de nódulos de bactérias fixadoras de nitrogênio em radicelas de várias espécies de Platymiscium; é provável que essas estruturas ocorram também em radicelas desta espécie. Por esse conjunto de motivos, P. floribundum é uma espécie que merece prioridade em projetos de arborização urbana e rural, recomposição de áreas desmatadas, implantação de sistemas agroflorestais e de plantios para produção de madeira de alta versatilidade e qualidade. 

As sementes de P. floribundum desidratam-se rapidamente em condições ambientes e é comum serem atacadas por fungos. Na produção de mudas, é preciso utilizar sementes extraídas de frutos que estejam completando o processo de maturação (começando a ficar marrons) e que não estejam perfurados por insetos. Após a extração, as sementes devem ser imersas durante 1  minuto em uma solução contendo 90% de água e 10% de hipoclorito de sódio. A semeadura deve ser realizada em recipientes de no mínimo 25 x 15 cm, contendo terra argilo-arenosa misturada com esterco curtido na proporção de 1:1. A prática indica que as plântulas apresentam melhor desenvolvimento quando mantidas em ambiente com cerca de 30% de sombreamento.

P. floribundum variedades floribundum e nitens ocorrem em uma parte relativamente pequena do Cerrado, habita áreas preferenciais para atividades agropastoris e as suas populações remanescentes estão situadas em fragmentos florestais pequenos, degradados e sujeitos a cortes de árvores, incêndios e invasões de gado. Além disso, não possui registros de ocorrência em unidades de conservação de proteção integral nesse bioma, tendo a seu favor apenas o fato de, esporadicamente, ocorrer em áreas de preservação permanente (florestas ribeirinhas).

Variedades

Klitgaard (2005) reconheceu quatro variedades em P. floribundum (floribundum, latifolium, nitens e obtusifolium). A inclusão das variedades floribundum e nitens neste trabalho está baseada na monografia dessa autora e em exsicatas que ela mesma determinou. A chave abaixo também está conforme essa monografia.

Chave para identificação das variedades de P. floribundum com ocorrência confirmada no Cerrado (adaptada de Klitgaard, 2005):

1. Ramos juvenis ocos; folíolos com nervuras amareladas; inflorescências densas; flores de 12-13 mm de comprimento.; cálice tão comprido quanto largo …………………………………………………………………………………………………………………………………. var. floribundum

2. Ramos juvenis sólidos; folíolos com nervuras esverdeadas; inflorescências pouca densas; flores de 14-18 mm de comprimento; cálice mais comprido do que largo …………………………………………………………………………………………………………………… var. nitens

Indivíduo em floresta estacional subcaducifólia convertida em pastagem. Anápolis (GO), 29-08-2005

Superfície do ritidoma. Brazlândia (DF), 05-02-2006

Folha nova. Anápolis (GO), 29-08-2005

Parte de uma inflorescência. Anápolis (GO), 29-08-2005

Cachos de frutos imaturos. Brazlândia (DF), 05-02-2006

 

 LITERATURA
ALVES, M.M. et al. 2016. Germinação de sementes de Platymiscium floribundum Vog. (Fabaceae) sob a influência da luz e temperaturas. Ciência Florestal, v.26, n.3, p.971-978.
FALCÃO, M.J.C. et al. 2005. Cytotoxic flavonoids from Platymiscium floribundum. Journal of Natural Products, v.68, n.3, p.423–426.
KLITGAARD, B.B. 2005. Platymiscium (Leguminosae: Dalbergiae): biogeography, systematics, morphology, taxonomy and uses. Kew Bulletin, v.60, n.3, p.321–400.
KLITGAARD, B.B.; LIMA, A.G. & KUNTZ, J. Platymiscium in Flora e Funga do Brasil. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em: <https://floradobrasil.jbrj.gov.br/FB29816>. Acesso em: 03 ago. 2022
LEWIS, G. P. Legumes of Bahia. Royal Botanic Gardens : Kew (UK), 1987, 369 p.
LORENZI, H. 1992. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. Nova Odessa (SP): Editora Plantarum, v. 1, 1a ed., 352 p.
MILITÃO, G.C.G. et al. 2005. Antimitotic properties of pterocarpans isolated from Platymiscium floribundum on sea urchin eggs. Letter Planta Medica, v.71, p.683-685.
MILITÃO, G.C.G. et al. 2006. Induction of apoptosis by pterocarpans from Platymiscium floribundum in HL-60 human leukemia cells. Life Science, v.78, n.20, p.2409-2417.
QUEIROZ, R.T. 2021. Fabaceae do Cariri paraibano. [Livro eletrônico]. Nova Xavantina (MT): Pantanal, 627 p.
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