Euplassa inaequalis (Pohl) Engl.

Fruta-de-morcego, morcegueira

Árvore inerme, subcaducifólia, semi-esciófila a heliófila, monoica, até 10 m de altura e 30 cm de DAP. Madeira moderadamente pesada; cerne marrom-claro a marrom-curo. Ritidoma pouco espesso, de cinzento a marrom-escuro, muito dividido e descamante, casca interna amarelada a brancacenta, um tanto fibrosa. Râmulos com pilosidade ferrugínea quando jovens; glabros, lenticelados e levemente fissurados quando adultos.  Folhas alterno-espiraladas, compostas, paripinadas, glabras a pubescentes; raque de 8-12 cm de comprimento, alargada no ápice e com 2-10 (na maioria das vezes 3) pares de folíolos; folíolos opostos, curto-peciolulados, elípticos a obovados, de margem inteira a ligeiramente serreada ou ondulada, de 5-8 x 4-5 cm. Inflorescências ferrugíneo-pilosas, não ramificadas, isoladas ou aos pares nas axilas ou no ápice dos ramos, pilosas, com flores pareadas; raque  de 5-15 cm de comprimento. Flores pediceladas, monoclamídeas, tetrâmeras, zigomorfas, amarelas, andróginas, perfumadas, de 6-10 mm de comprimento; tépalas recurvadas na antese; androceu isostêmone; gineceu com ovário súpero, glabro ou pubescente. Frutos subglobosos a ovoides, com ápice agudo a obtuso, endocarpo lenhoso, mesocarpo polposo e pericarpo amarelo-esverdeado na maturação, monospermos, d e  2,5-3 x 2-2,5 cm. Sementes elipsoides, com tegumento bege, fino; com menos a metade do tamanho do fruto.

E. inaequalis ocorre no Peru, na Bolívia e no Brasil, com presenças confirmadas nos estados do Amazonas, Pará, Tocantins, Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais, Bahia e no Distrito Federal. Ocorrem em uma significativa parte da área de abrangência do Cerrado, em florestas ribeirinhas e em florestas estacionais subcaducifólias, sem ser frequente e sendo abundante em poucas localidades.

Essa proteácea perde uma considerável parte da folhagem no meado da estação seca; floresce de setembro a novembro, com folhas bem desenvolvidas; e apresenta frutos maduros de janeiro a abril. A flores são frequentadas por abelhas, borboletas e, eventualmente, beija-flores. Os frutos maduros são apanhados por morcegos, primatas e, secundariamente, por mamíferos terrestres.

A madeira de E. inaequalis, devido ao peculiar arranjo dos seus elementos anatômicos, apresenta “desenhos” no corte radial e quando polida, torna-se muito decorativa e bastante desejável para confecção de móveis, objetos de adorno, molduras e porta-joias;  os troncos de maiores dimensões são eventualmente desdobrados em tábuas para uso em em obras internas construção civil. As flores são fonte de recursos alimentares para uma variedade de insetos e, aparentemente, para beija-flores. . Os frutos entram na dieta de morcegos, primatas e alguns mamíferos terrestres. A espécie merece inclusão em projetos de recomposição de áreas desmatadas e de arborização de logradouros públicos.

Para formar mudas de E. inaequalis, pode-se utilizar frutos colhidos no chão, que já tenham tido ou não a polpa removida do endocarpo  por morcegos, ou colhidas nas árvores. Em ambos os casos é necessário limpar completamente os endocarpos, pois as sementes serão postas para germinar no interior deles. A semeadura pode ser em recipientes de ± 25 x 10 cm ou em sementeiras, para posterior repicagem das plântulas. O substrato pode ser uma mistura de areno-argilosa com esterco curtido, na proporção de 1:1, e o ambiente deve ser parcialmente sombreado. Por outra parte, Oliveira & Ribeiro (2013) constataram mediante ensaios realizados em casa de vegetação, que estacas apicais de E. inaequalis com 20 cm de comprimento e duas folhas, coletadas no final da época seca, apresentam taxas satisfatórias de enraizamento e sobrevivência.

E. inaequalis ocorre em terrenos preferenciais para atividades agropastoris, mas tem dispersão relativamente ampla no Cerrado, ocorre também em áreas de preservação permanente (florestas ribeirinhas) e está presente em muitas unidades de conservação de proteção integral nesse bioma.

Superfície do ritidoma e cor da casca interna. Alexânia (GO), 07-11-2012

Folha na extremidade de um râmulo. Coromandel (MG), 05-01-2016

Inflorescências. Alexânia (GO), 07-11-2012

Frutos imaturos. Coromandel (MG), 05-01-2016

LITERATURA
LUPO, R. & PIRANI, J.R. 2002. Proteaceae. In WANDERLEY, M.G.L. et al. (eds.) Flora fanerogâmica do Estado de São Paulo, v.2, p.269-278.
OLIVEIRA,  M.C. & RIBEIRO, J.F. 2013. Enraizamento de estacas de Euplassa inaequalis (Pohl) Engl. de mata de galeria em diferentes estações do ano. Bioscience Journal, v.29, n.4, p.991-999.
PIRANI, J.R. & NASCIMENTO, F.H.F. 1995. Flora da Serra do Cipó, Minas Gerais: Proteaceae. Boletim de Botânica da Universidade de São Paulo, v.14, p.223-234.
PLANA, V. & PRANCE, G.T. 2004. A synopsis of the South American genus Euplassa (Proteaceae). Kew Bulletin, v.59, n.1, p.27–45. 
PRANCE, G.T. et al. 2007. Proteaceae. Flora Neotropica Monograph, v.100, p.1-218.
PRANCE, G.T. & PIRANI, J.R. Proteaceae in Flora e Funga do Brasil. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em: <https://floradobrasil.jbrj.gov.br/FB13778>. Acesso em: 30 nov. 2022.
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