Miconia cuspidata Naudin

Pixirica, pixiricão

Árvore inerme, perenifólia, heliófila, monoica, de até 8 m de altura e 15 cm de DAP. Tronco reto ou levemente curvo, roliço ou ligeiramente acanalado na base. Casca estreita; ritidoma íntegro, cinzento, com manchas mais claras de colônias de líquens, envolvendo um anel verde de tecido peridérmico; casca viva entre amarelada e avermelhada, bracacenta na região do floema. Madeira leve; cerne marrom-claro, uniforme ou com listras espaçadas. Râmulos vermelho-amarronzados, finos, pubérulos ou glabros. Folhas simples, opostas, glabras ou glabrescentes; pecíolo de 8-12 mm de comprimento; lâmina levemente discolor, membranácea a cartácea, estreitamente ovada a elíptica, de até 5 x14 cm, base obtusa a arredondada, ápice longamente cuspidado, margem inteira, com domácias na base da face abaxial e nervação do tipo acródomo com uma nervura central, espessa, um par de nervuras arqueadas, igualmente espessas, e outro par de nervuras arqueadas, marginais e finas. Inflorescências paniculiformes, glabras ou glabrescentes, de até12 cm de comprimento. Flores diclamídeas, pentâmeras, actinomorfas, andróginas, pediceladas, de 4-5 mm de comprimento; corola branca; androceu diplostêmone, estames com anteras lineares, poricidas; cálice precocemente caduco; gineceu com ovário ínfero, multiovulado. Frutos globosos, glabros, suculentos, purpúreos e de até 6 mm de diâmetro quando maduros. Sementes até 50/fruto, muito pequenas, angulosas, branco-encardidas ou marrom-claras, com tegumento rijo.

É referida na Flora do Brasil 2020 como não endêmica do Brasil e com registros de ocorrência nos estados da região norte brasileira (exceto Rondônia e Tocantins) e em Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais, Alagoas, Pernambuco, Paraíba e no Distrito Federal. Ocorre em mais ou menos a metade da área de abrangência do Cerrado, em florestas ribeirinhas, florestas estacionais perenifólias e cerradões. É frequente e por vezes bastante abundante em várias localidades da parte central desse bioma, principalmente em clareiras.

Miconia cuspidata floresce de abril a agosto e apresenta frutos maduros de outubro a fevereiro, com pico em dezembro e janeiro. O trabalho de Renner (1989) permite inferir que as flores dessa espécie são polinizadas por abelhas silvestres, como em outras espécies do mesmo gênero. As sementes são dispersas por aves e provavelmente por outros animais arborícolas de pequeno porte.

A madeira de M. cuspidata é utilizada em propriedades rurais, como fonte de energia, para construção de cercas provisórias e, eventualmente, para confecção de caibros, ripas, forros e molduras. As flores fornecem pólen aos insetos que as frequentam. Os frutos são uma importante fonte de alimento para aves e possivelmente outros animais silvestres. A folhagem e as inflorescências e infrutescências dessa espécie são ornamentais, o que torna indicada para arborização de jardins e vias públicas. Suas utilidades para a fauna, aliadas à sua propensão para proliferar em clareiras, a tornam altamente elegível para recomposição de florestas desmatadas.

Para a formação de mudas de M. cuspidata, os propágulos utilizados são as sementes, que ainda não foram objeto de estudos sobre germinação e desenvolvimento de plântulas. Em função disso, sugere-se que no processo de utilização dessas sementes sejam seguidos os procedimentos propostos em Lorenzi (1992) e Ramalho (2006) para produção de mudas de Miconia cinnamomifolia, uma espécie com frutos e sementes muito similares aos de M. cuspidata que já conta com vários estudos sobre germinação e desenvolvimento de plântulas em viveiro. Deve-se esperar que a sementes desta espécie sigam o padrão das sementes de M. cinnamomifolia, apresentando baixa germinabilidade e  germinação demorada e desuniforme, com geração de plântulas que crescem de forma moderada.

M. cuspidata ocorre em tipos de vegetação que têm sido muito destruídos pelo homem, para fins de implantação de lavouras e pastagens. Por outro lado, tem dispersão relativamente ampla no Cerrado e está presente em áreas de preservação permanente (florestas ribeirinhas) e em unidades de conservação de proteção integral nesse bioma.

Indivíduo no início da floração, em margem de floresta estacional perenifólia. Uberlândia (MG), 01-04-2017

Aspectos da casca do tronco. Uberlândia (MG), 01-04-2017

Inflorescência com botões florais. Uberlândia (MG), 01-04-2017

LITERATURA
CAMARGO, N.F. et al. 2011. Frugivoria e potencial dispersão de sementes pelo marsupial Gracilinanus agilis (Didelphidae: Didelphimorphia) em áreas de Cerrado no Brasil central. Acta Botanica Brasilica, v.25, n.3, p.646-656.
Miconia in Flora do Brasil 2020 em construção. Jardim Botânico do Rio de Janeiro.Disponível em: <http://reflora.jbrj.gov.br/reflora/floradobrasil/FB9692>. Acesso em: 11 jul. 2020.
MOURA, R. et al. 2017. Frugivoria por aves em Miconia cuspidata Naudin (Melastomataceae) na Amazônia Central. XIII Congresso de Ecologia. Resumos. In: http://seb-ecologia.org.br/revistas/indexar/anais/2017/anais/resumos/resAnexo1-0324-0042-a568c033d7a9e8fae6a75b1bf4e734a5.pdf, acesso em: 24-10-2020.
REZENDE, A.R.; ROMERO, R. & GOLDENBERG, R. Sinopse de Miconia Seção Miconia DC. (Melastomataceae) no Estado de Minas Gerais, Brasil. Bioscienses Journal, v.30, n.1, p.273-287.
SILVA JÚNIOR, M.C. & PEREIRA, B.A.S. 2009. + 100 Árvores do Cerrado: Matas de Galeria: Guia de Campo. Brasília: Rede de Sementes do Cerrado, p.146-147.
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