Margaritaria nobilis L.f.

Mamoninha, mamoninha-azul

Árvore inerme, caducifólia a subcaducifólia, heliófila,  dioica, latescente, de até 10 m de altura e 25 cm de DAP; látex incolor. Madeira leve; cerne amarelado, macio.  Râmulos jovens verdes, lisos; depois, castanhos ou marrons e, com lenticelas.  Folhas simples, alternas, curto-pecioladas, glabras; lâmina membranácea a cartácea, discolor, ovada a elíptica, de margem inteira, com  4-7 x 2-4 cm. Inflorescências quase axilares, glabras, de 2-5 cm de comprimento, com 1 a várias flores. Flores pediceladas, diclamídeas, tetrâmeras, com cálice lobado; flores masculinas com 4 estames; flores femininas com ovário bilocular, cada lóculo com 2 óvulos. Frutos pedunculados, subglobosos, sulcados, tetraspermos, secos, deiscentes, de 8-12 x 12-15 mm. Sementes 2 por lóculo, com sarcotesta carnosa, estreita, de cor azul, cinzenta ou preta; tegumento rijo; e endosperma brancacento, oleaginoso.

Margaritaria nobilis, distribui-se do México, passando pela América Central e parte do Caribe, até o nordeste da Argentina. Os  seus registros de ocorrência no  Brasil são para as unidades federativas das regiões Norte, Centro-Oeste, Sudeste e Sul e para os estados do Maranhão, Pernambuco e Bahia. Ocorre na maior parte da área de abrangência do Cerrado, mas de forma descontínua e apenas em florestas ribeirinhas e florestas estacionais subcaducifólias.

Essa filantácea perde as folhas no meado da estação seca; floresce com folhas novas, em outubro e novembro; e apresenta frutos maduros de agosto a setembro. Segundo Kawakita (2010), a polinização em membros dessa família é realizada por lepidópteros e himenópteros, mas ainda não se sabe quais são os polinizadores de M. nobilis. Cazetta et al. (2008) constataram, por meio de um estudo realizado no Estado de São Paulo, que a dispersão das sementes dessa espécie se dá em dois estágios: um autocórico, quando os frutos maduros se desprendem dos ramos e caem no chão; e outro ornitocórico, quando esses frutos se abrem na superfície do solo, expõem as sementes e são apanhados por gralhas (Cyanocorax chrysops), jacus (Penelope superciliaris), pombas (Geotrygon montana) e catetos (Pecari tajacu), e levados para longe da planta mãe. Esses autores constataram, também, que o o sabiá Turdus leucomelas foi o único frugívoro que ingeriu os frutos na copa das árvores observadas e que os psitacídeos Pitylus fuliginosos e Pionus maximiliani atuaram como consumidores da polpa dos frutos.

A madeira de Margaritaria nobilis é esporadicamente utilizada em construção de forros de casas e em confecção caixotes, engradados, brinquedos, esculturas, e móveis. As sementes e os frutos servem de alimento para diversos membros da fauna silvestre. A espécie pode ser empregada em arborização urbana e merece prioridade em projetos de recomposição de áreas desmatadas.

Para a formação de mudas de Margaritaria nobilis, o material utilizado são as sementes. Estas devem ser novas e precisam ser lavadas antes de serem postas para germinar. Agustin et al. (2016) constataram em condições de laboratório que o percentagem e o índice de velocidade de germinação são maiores quando as sementes são tratadas com uma mistura de  GA3 + Ethephon (2mmol L-1 + 1 mmol L-1) e semeadas em vermiculita, sob temperatura de 20-30 ºC. Em condições corriqueiras de viveiro, a semeadura pode ser em recipientes individuais ou em sementeiras parcialmente sombreados e tendo como substrato uma mistura de terra argilo-arenosa com esterco curtido, na proporção de 2:1.

Margaritaria nobilis possui ampla dispersão no Cerrado, habita áreas de preservação permanente (florestas ribeirinhas) e está presente em várias unidades de conservação de proteção integral nesse bioma. Porém, tem distribuição descontínua e é pouco frequente.

Superfície do ritidoma de indivíduo em floresta ribeirinha. Paracatu (MG), 16-07-2017

Inflorescências femininas e folhas novas (face abaxial). Paracatu (MG), 10-11-2017

Frutos imaturos e folhas adultas. Paracatu (MG), 16-07-2017

Frutos maduros, expondo as sementes. Gália (SP), 16-03-2005. Autora: Eliana Cazetta.

LITERATURA
AGUSTIN, M..B. et al. 2016. Superação de dormência fisiológica em sementes de Margaritaria nobilis (Linnaeus). Revista Inova Ciência & Tecnologia,  v.2, n.2, p.14-19.
BENCKE, C.S. & MORELLATO, P.C. 2002. Estudo comparativo da fenologia de nove espécies arbóreas em três tipos de floresta atlântica no sudeste do Brasil. Revista Brasileira de Botânica, v.25, n.2, p.237-248.
CAZETTA, E. et al. 2008. Frugivory on Margaritaria nobilis L.f. (Euphorbiaceae): poor investment and mimetism. Revista Brasileira de Botânica, v.31, n.2, p.303-308.
KAWAKITA, A. 2010. Evolution of obligate pollination mutualism in the tribe Phyllantheae (Phyllanthaceae). Plant Specie Biology, v.25, n.1, p.219.
SOBRAL et al. 2013. Flora arbórea e arborescente do Rio Grande do Sul, Brasil. São Carlos (SP): RiMa Editora, 2a ed., 362 p.
WEBSTER, G.L. 1979. A revision of Margaritaria (Euphorbiaceae). Journal of the Arnold Arboretum v.60, n.1, p.403-444.

 

Site Protection is enabled by using WP Site Protector from Exattosoft.com