Gallesia integrifolia (Spreng.) Harms

Sinônimo: Gallesia gorazema (Vell.) Moq., G. ovata O.C.Schmidt

Pau-d’alho

Árvore inerme, caducifólia, heliófila, monoica, com até 18 m de altura e 100 cm de DAP. Partes vegetativas, flores e frutos com odor de alho. Tronco geralmente com reentrâncias e sapopemas. Casca moderadamente espessa; ritidoma cinzento a pardacento na superfície, íntegro ou  dividido e descamante; casca viva esponjosa, variando de branca a amarelada, com periderme verde. Madeira moderadamente pesada, amarelada, formada por camadas de tecido esponjoso alternadas com camadas de tecido lenhoso. Râmulos roliços, lenticelados. Folhas simples, alternas, com pecíolo de 4-6 cm de comprimento, cartáceas a coriáceas, ovadas a elípticas, de bordo liso, glabras ou pilosas na face inferior, de 9-16 x 6-10 cm. Inflorescência paniculiforme, terminal ou axilar, glabra ou pubescente, de 12-25 cm de comprimento. Flores sésseis ou curto-pediceladas, monoclamídeas, tetrâmeras, actinomorfas, andróginas, às vezes também unissexuais, perfumadas, de cor creme, com 4-6 mm de comprimento. Fruto compresso, seco, alado, branco-encardido, de 2-3,5 cm de comprimento, com núcleo seminífero basal, monospermo. Semente compressa, orbicular ou obovada, com tegumento membranáceo, de 6-8 x 5-6 cm.

Ocorre no Equador, Peru, Bolívia e no Brasil, com registros de ocorrência nos estados do Acre, Amazonas, Mato Grosso, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia, Pernambuco, Paraíba e Ceará. É pouco frequente no Cerrado, aparecendo de forma esporádica em florestas ribeirinhas que na maioria das vezes estão vinculadas a planícies aluviais que eventualmente sofrem inundações.

G. integrifola perde as folhas do meado para o fim da na estação seca; floresce entre março e maio; e apresenta frutos maduros de agosto a setembro, ainda com folhas senescentes. As flores são frequentadas por insetos, com predominância de dípteros e himenópteros. As sementes são dispersas pelo vento.

A madeira de G.i ntegrifolia é pouco resistente a esforços físico-mecânicos e às intempéries, sendo mais apropriada, e esporadicamente usada, para confecção de divisórias, forros, molduras, caixotes e obras de entalhe.  As cinzas da lenho, por ser rica em potassa, é usada localmente no fabrico de sabão caseiro. As infusões das folhas e da casca do tronco possuem reputação na fitoterapia popular, sendo consideradas efetivas contra úlceras gástricas, reumatismo, vermes intestinais, gonorreia, gripe e tumores da próstata e afecções da pele. As folhas são também consideradas ricas em cafeína. A espécie deve receber prioridade em projetos de arborização e rural e de recomposição de áreas desmatadas.

As sementes de G. integrifolia só se mantêm viáveis por longos períodos se forem liofilizadas ou lacradas a vácuo e mantidas em câmara fria com alta umidade, o que não é praticável em grande parte das situações. Por isso, na formação de mudas dessa espécie deve-se utilizar sementes recém-colhidas e colocá-las para germinar em um substrato que seja bom retentor de umidade e que não esteja infestado de patógenos. A semeadura pode ser em sementeiras, para posterior repicagem da plântulas, em tubetes de tamanho grande ou em saquinhos de plástico de ± 25 x 15 cm. As plântulas só se desenvolvem bem em ambiente sombreado, mas quando atingem 15-20 cm podem ser plantadas em área que ofereçam sombreamento parcial.

G. integrifolia ocorre em poucas partes da área de abrangência do Cerrado, na forma de  populações disjuntas e muito distanciadas, e não possui registros de presença em unidade de conservação de proteção integral nesse bioma. Em termos conservacionistas, tem a seu favor apenas o fato de ser um habitante de florestas ribeirinhas, consideradas áreas de preservação permanente pelo Código Florestal Brasileiro.

Informes fitoquímicos: 1) Fraga et al. (2006) identificaram 36 compostos químicos no óleo essencial das folhas de G. integrifolia, dentre eles os responsáveis pelo odor característico da espécie e alguns que têm reconhecida atividade antimicrobiana. 2) Raimundo et al. (2018) isolaram  35 compostos químicos do óleo essencial dos frutos dessa espécie e constataram que uma parte desses compostos apresenta atividade contra fungos dos gêneros Aspergillus e Penicillium.

 

Indivíduo em floresta ribeirinha alterada pelo homem, na estação seca. Arinos (MG), 21-08-2017

Superfície do ritidoma e cor da casca interna. Arinos (MG), 21-08-2017

Folhas na estação chuvosa. Arinos (MG), 24-11-2009

Inflorescência no final da antese e folhas senescentes. Arinos (MG), 21-08-2017

 

LITERATURA
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