Myroxylon peruiferum L.f.

Sinônimo: Myroxylon toluiferum Kunth

Bálsamo, pau-de-bálsamo, cabreúva

Árvore inerme, subcaducifólia, heliófila, monoica, até 20 m de altura e 70 cm de DAP. Folhas, frutos, sementes, casca e lenho com óleo-resina aromático. Casca moderadamente espessa; ritidoma cinzento, espesso, dividido e descamante nos troncos de maior diâmetro; casca interna amarelada, mais clara na região do floema. Madeira pesada; cerne castanho-amarelado  a marrom-claro, uniforme ou listrado. Folhas alternas, imparipinadas, glabras, com 7-15 folíolos; raque e pecíolo totalizando  8-15 cm de comprimento; folíolos alternos, curto peciolados, lustrosos, glandulosos,a, ovados a elípticos, de 4-7 x 2-3,5 cm. Inflorescência paniculiforme, axilar, glabra a pubescente, de até 15 cm de comprimento; flores diclamídeas, pentâmeras, papilionáceas, andróginas, perfumadas, de de 12-18 mm de comprimento, contando o pedicelo; cálice  campanuliforme, verde-acinzentado; pétalas predominantemente brancas. Fruto seco, indeiscente, alado, monospermo, glanduloso, amarelado a marrom na maturação, de 5-6 x 1,5-2 cm, com ala basa e núcleo seminífero apical. Semente elipsoide a reniforme, achatada, sulcado-enrugada, de 10-13 x 7-8,5 mm.

É citada para o território compreendido entre o norte da Argentina e o norte do restante da América do Sul. Tem registros de ocorrência para todas as unidades federativas das regiões Sudeste e Centro-Oeste do Brasil e para os estados do Paraná, Bahia, Pernambuco e Ceará. Ocorre na maior parte da área de abrangência do Cerrado, atualmente com baixa frequência e restrita aos remanescentes de florestas estacionais e florestas ribeirinhas.

Perde uma notável parte da folhagem na estação seca; floresce com folhas senescentes, de julho a agosto; e apresenta frutos maduros em outubro e novembro. As flores são frequentadas por himenópteros, com destaque para abelhas silvestres e Apis mellifera. Os frutos são dispersos pelo vento.

A madeira é de alta qualidade e grande versatilidade, já tendo sido amplamente empregada na construção civil, principalmente em obras internas de alto padrão; em confecção de móveis de luxo, objetos decorativos, instrumentos musicais, toneis para bebidas destiladas e em construção de carros de bois. O oleoresina exsudado pelo tronco é utilizado na fitoterapia popular, contra afecções respiratórias e reumatismo e como cicatrizante e anti-micótico; é também utilizado na indústria de perfumes e cosméticos. As sementes são muito usadas como flavorizante de aguardente. A espécie forma árvores com atributos que a torna preferencial para utilização em arborização urbana e rural, recomposição de áreas desmatadas, implantação de sistemas agroflorestais e plantios para produção de madeira nobre e de oleoresina.

Para produzir mudas de M. peruiferum, é importante que se utilize frutos recém-amadurecidos, sem a asa e com um corte em um dos lados do núcleo seminífero. As sementes são postas para germinar dentro dos núcleos, sem tratamentos pré-germinativos ou após mantê-los imersos em água por cerca de 12 horas. A semeadura deve ser realizada em recipientes de no mínimo 25 x 15 cm, contendo substrato rico em matéria orgânica e mantidos em ambiente com 30% a 50% de sombreamento.

M. peruiferum possui ampla dispersão no Cerrado, mas as suas populações foram drasticamente reduzidas ao longo do tempo, devido à ação de madeireiros e aos desmatamentos praticados para formação de lavouras e pastagens. Atualmente, os indivíduos remanescentes estão confinados em áreas pontuais de algumas florestas ribeirinhas e em fragmentos florestais pequenos, constantemente sujeitos a derrubadas de árvores, incêndios e invasões de gado. A boa notícia é que essa valiosa e peculiar espécie vem sendo bastante utilizada em arborização urbana nesse bioma.

Comentário 1: a) Atualmente, o uso medicinal do oleoresina de M. peruiferum está baseado em estudos fitoquímicos que levaram ao isolamento do isoflavonoide denominado cabreuvina e de diversas outras substâncias de interesse médico, farmacêutico e químico. b) As sementes dessa fabácea são ricas em cumarina, uma substância com reconhecida atividade anticoagulante e vasodilatadora (GOTTLIEB & MAGALHÃES, 1959). c) A casca do tronco contém nerolidol, um sesquiterpeno que segundo ensaios realizados por Simas et al. (2004) elimina larvas do mosquito Aedes aegypti, transmissor do dengue. d) As folhas possuem um óleo essencial que conforme Texeira da Silva et al. (2017), é capaz de sequestrar radicais livres. Pereira et al. (2019) apresentaram uma revisão das principais características fitoquímicas e farmacológicas dessa espécie.

Comentário 2: Existem registros de formação de nódulos de bactérias fixadoras de nitrogênio em radicelas de M. peruiferum, o que se configura como um motivo adicional para indicação desta espécie para implantação de sistemas agroflorestais.

À direita, fuste de um indivíduo em floresta ribeirinha. Brazlândia (DF), 22-11-2005

Superfície do ritidoma e cor da casca interna. Brazlândia (DF), 22-11-2005

Inflorescências. Abadia dos Dourados (MG),19-10-2013

Frutos maduros. Brazlândia (DF), 05-11-2012

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